terça-feira, 1 de novembro de 2011

VENDE-SE TUDO!!


Algumas vezes em minha vida tive que deixar as minhas coisas para trás. Carreguei comigo somente o pessoal e o afetivo.
Não é fácil desapegar. Mas muitas vezes é necessário e pelo menos comigo sempre foi melhor depois. Me identifiquei com o texto e por isso compartilho.




VENDE-SE TUDO!!

 Martha Medeiros

 No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.

O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:

- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.

- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.

Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi.

Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.

Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma.

No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.

Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.

Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile.

Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.



... só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ !



Martha Medeiros

8 comentários:

George Sand disse...

cada vez menos apegada aos bens materiais. Sobretudo à imensa traquitanada que acumulamos ao longo da vida e, que agora vou enfiando, nos armários da memória

Lucia Luz disse...

Filipa

Precisei aprender. Tenho agora os objetos afetivos e pessoais.
Beijinhos

Anônimo disse...

Lucia Luz, sem comentários. Ainda mais partindo da Martha Medeiros. É gostoso passar por isso e curtir que só os sentimentos nos pertencem. O resto é questão de necessidades e um pouco de conforto. É bom mudar tudo de vez em quando, né? Super legal a postagem.
Beijo com carinho.
Manoel.

Lucia Luz disse...

Manoel querido

Já passei por isso tantas vezes...
Cada vez fica mais fácil.
Cada vez carrego menos coisas e simplifico a vida.
E acredito que cada dia ela está mais bela.( mesmo com os problemas nossos de cada dia).
Fico feliz que tenha curtido.
Com carinho, um beijinho

Lucia

Anônimo disse...

É isso mesmo, querida Lúcia. As pessoas apegam-se demasiado aos bens materiais e esquecem o importante.
Nunca em minha vida tive apego a bens materiais, mas sempre me apeguei ( talvez demasado..) às memórias

Lucia Luz disse...

Carlos querido

A vida fica mais leve assim.
E as memórias essas são especiais e a elas devemos nos apegar sim.
Beijinhos

Jô Bibas disse...

Também adoro os textos dela. Essa não é coincidência porque metade do Brasil gosta...
E ela vai estar aqui em Curitiba na semana que vem. E eu vou vê-la!

Lucia Luz disse...


Que bacana! Depois conta como foi tá?
Realmente ela é sensacional.
Beijinhos